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EGM.
marzo 2010 /
Publicación semestral. ISSN: 1988-3927. Número 6, marzo de 2010.

Glosas filosóficas sobre pesquisa: que é? por quê? e para quê?

Osvaldino Marra Rodrigues

Seit ein Gespräch wir sind und hören können voneinander,

Erfahren der Mensch [*]

 

I. Perspectivas teórico-metodológicas

Este artigo é o resultado de uma reflexão provocada pela docência no ISEI, Instituto Superior de Educação Ivoti, RS, sobre o fenômeno, o conceito e algumas das finalidades da pesquisa. Concretamente, três perguntas delimitam o horizonte teórico-especulativo sobre o tema aqui proposto: que é pesquisa?, por quê pesquisa?, para quê pesquisa?

Metodologicamente, foi elaborado tendo como referenciais teóricos (i) a hermenêutica e a fenomenologia e (ii) a tradição expressivista da linguagem e a dialética.

Sob o primeiro, (i) tenho como pressupostos de Hannah Arendt e Maurice Merleau-Ponty. Para Arendt, a condição humana “não é o mesmo que natureza humana”. Esta, portanto, não possui uma natureza ou essência que possa ser definida a priori. Por essa razão, “a soma total das atividades e capacidades humanas que correspondem à condição humana não constitui algo que se assemelhe à natureza humana” [1]. De Merleau-Ponty, retenho o esforço da descrição, “e não de explicar nem de analisar” [2]. Dele também retenho a compreensão de que eu

[…] não sou o resultado ou o entrecruzamento de múltiplas causalidades que determinam meu corpo ou ‘meu psiquísmo’, eu não posso pensar-me como uma parte do mundo, como simples objeto da biologia, da psicologia e da sociologia, nem fechar sobre mim mesmo o universo da ciência. Tudo aquilo que sei do mundo, mesmo pela ciência, eu o sei a partir de uma visão minha ou de uma experiência do mundo sem a qual os símbolos das ciências nada poderiam me dizer [3].

Sob o segundo, (ii) acato a tese de Charles Taylor, para quem o conhecimento não pode ser compreendido “sem recorrer à nossa compreensão nunca-plenamente-articulável da vida e da experiência humana” [4]. Para a tradição expressivista da linguagem, esta “não parece ser primariamente tal como um instrumento segundo o qual ordenamos os pensamentos em nosso mundo, mas tal que nos permita ter o mundo que nós temos.” Por isso mesmo, “a linguagem torna possível o desvelamento do mundo humano” [5]. Também subscrevo a tese de Lima Vaz, para quem “a acepção fundamental da dialética como método diz respeito a um caminho (méthodos) do logos através de oposições que se apresentam tanto na ordem real quanto na ordem nocional e que o logos integra numa unidade superior” [6]; por conseguinte, o “procedimento dialético não é um procedimento formal no qual uma lógica é aplicada a um conteúdo que lhe é exterior. Ele traduz a lógica intrínseca do conteúdo, o dinamismo da sua própria inteligibilidade” [7].

Sob essas perspectivas teórico-metodológicas, seria plausível sustentar que o processo da pesquisa resulta num ato indispensável à compreensão e constituição da condição humana, não um ato formal de exigência acadêmica somente, pois sociedade, grupos sociais e indivíduos se deparam constantemente com problemas que exigem respostas. Corroborando essa nossa hipótese, o teólogo alemão Gerd Theissen afirmou que,

O ser humano não pode existir em seu entorno tal como o encontra; tem que modificá-lo. O faz, de um lado, mediante o trabalho e a técnica e, de outro, mediante a interpretação. A interpretação do mundo se efetua mediante sistemas hermenêuticos: na vida cotidiana, mediante o “common sense”; nas áreas especializadas da vida, mediante a ciência, a arte e a religião. Mediante o trabalho e a interpretação, o ser humano faz do mundo uma pátria habitável. A transformação do mundo mediante a interpretação não se produz por intervenções causais na natureza, como o fazem o trabalho e a técnica, senão por “signos”, quer dizer, mediante elementos naturais que geram, como signos, relações semióticas com o “designado”. Tais signos e sistemas de signos não modificam a realidade designada, senão nossa conduta cognitiva, emocional e pragmática com ela: dirigem a atenção, organiza as impressões em contextos e as juntam às ações. Somente podemos viver e respirar no mundo assim interpretado [8].

Em outras palavras, para o gênero humano, o conhecimento acerca do mundo não é algo dado, estático, acabado, mas um processo histórico conjuntamente tecido. Exatamente por esse motivo é que a compreensão do mundo resulta da paciente construção do espírito por meio do conceito, ou seja, “o espírito consciente-de-si na sua formação cultural” [9]. Por conseqüência, procurar compreender o processo do espírito pelo conceito requer considerável esforço e paciência, pois o “singular deve também percorrer os degraus de formação cultural do espírito universal, conforme seu conteúdo” [10]. Ainda em conformidade com Hegel,

A meta final desse movimento [de formação cultural] é a intuição espiritual do que é o saber. A impaciência exige o impossível, ou seja, a obtenção do fim sem os meios. De um lado, há que suportar as longas distâncias desse caminho, porque cada momento é necessário. De outro lado, há que demorar-se em cada momento, pois cada um deles é uma figura individual completa, e assim cada momento só é considerado absolutamente enquanto sua determinidade for vista como todo ou concreto, ou o todo na peculiaridade dessa determinação [11].

Pelos motivos elencados, o título procura indicar que não há conceito unívoco relacionado à pesquisa: não existe a pesquisa, mas pesquisas, pois se fosse possível circunscrevê-la, não haveria mais, a partir desse fato, possibilidade de pesquisa, porque a história estaria definida, circunscrita, definitivamente encerrada. Entretanto, porque a condição humana, historicamente situada, impõe problemas contínuos, são necessárias pesquisas contínuas. Portanto, a pesquisa [12] está indissoluvelmente radicada na tessitura e compreensão histórica do gênero humano, seja sob o ponto de vista social, político, cultural, epistemológico, artístico etc., quanto aos problemas oriundos da subsistência biológica humana.

II. Entre pesca e pesquisa: que é pesquisa?

Procurando pela origem da palavra pesquisa, deparei-me com um fato intrigante: origina-se do espanhol, e não diretamente do latim perquisita. Da palavra pescar derivam duas outras, tanto no léxico espanhol quanto no português: pesquisa e pesca. Além de pesquis: perspicácia, no sentido de inteligência e da capacidade de discernimento própria ao gênero humano. Por conseguinte, pesquisa é o processo imanente ao ato de perquirir, indagar, buscar, pescar, capturar, apreender, apanhar algo e discernimento quanto ao objeto a ser capturado.

Enquanto verbo, pesquisar é uma ação mediada pelo discernimento, um saber-fazer. Pescador ou pesquisador, ambos procuram pescar objetos determinados, com equipamentos e conhecimentos específicos. Pescar e pesquisar resultam da ação e da condição humana; daí o sentido da primeira pergunta: que é pesquisa? Nesse aspecto, tanto a pesca quanto a pesquisa procedem de uma arte determinada, de um saber fazer específico. Quem pesca, pescador; quem pesquisa, pesquisador: ambos realizam uma ação, um lançar-se em direção a, objetivando algo: o pescador, peixes; o pesquisador, respostas ao problema suscitado. Sob outro prisma: para que uma pesquisa seja efetivada são necessários um pesquisador e um problema, um tema a ser pesquisado, e os procedimentos teórico-metodológicos necessários relacionados ao problema.

A pergunta, que é?, resulta, muito esquematicamente, numa tríplice e imbricada dimensão:

(i) um pesquisador;

(ii) um problema que solicita uma resposta;

(iii) uma resposta ao problema.

Portanto, no processo de pesquisa estão implicados um agente, um objeto e os meios necessários para realizar a pesquisa, embora esta ordem não esteja numa relação hierárquico-vertical, posto que não existe pesquisador sem problema de pesquisa nem este sem aquele. Pelo contrário, no processo inicial da pesquisa há uma precedência lógica do objeto de pesquisa sobre o pesquisador, tal como o tipo de peixe a ser pescado pelo pescador.

Recorrendo à dubiedade semântica da palavra, podemos dizer que um pescador que no ato de pescar pesca um pescado, utilizou corretamente determinados procedimentos e instrumentos metodológicos necessários –barco, anzóis, linhas, molinetes, tarrafas, redes, iscas etc. – à pesca. Noutro prisma, a ação do pescador procedeu em conformidade com um consciente discernimento operacional. O pescado é, portanto, o resultado de uma arte, a pescaria. Pescador é quem exerce um ofício com instrumentais necessários, domina a prática de um conhecimento específico, que sabe e conhece as regras e métodos próprios à arte da pescaria. Esta, além dos instrumentos específicos, requer um campo específico de operacionalização que resulta de um discernimento teleológico, dado que a pesca ocorre em lugares distintos: córregos, riachos, mangues, rios, mares, oceanos etc. Sob outra perspectiva, cada campo requer instrumentos e pescadores específicos embora, sob o aspecto formal, o objetivo da pesca seja o mesmo. Pescaria é, pois, um conceito geral sob o qual se agrupam meios distintos ao exercício da arte de pescar.

Quanto à especificidade técnico-metodológica: ao sair para pescar, devemos pressupor que o pescador tem objetivos muito claros, pois se ele não os possui, o tempo, trabalho e forças dispensadas resultariam em nada, e este não é um produto muito bom para ser negociado no mercado de peixes ou manter a vida sob o aspecto da subsistência biológica. Igualmente a pesquisa: um conceito formal sob o qual estão abrigadas incontáveis determinações ulteriores. Por conseqüência, a efetivação e a prática do processo de pesquisa requerem paciência quanto ao treinamento e aquisição de habilidades e conhecimentos metodológicos específicos –os quais poderíamos designar instrumentais necessários.

Em outros termos, antes de iniciar uma pesquisa é indispensável que eu saiba qual é o meu problema e de qual campo emergem as condições necessárias à consecução da minha pesquisa, pois é de um campo especifico que o meu problema emerge. Portanto, o desenvolvimento de uma pesquisa requer critérios e saberes específicos, se admitirmos a hipótese de que uma determinada pesquisa requer um campo específico. Cada campo possui questões específicas vinculadas a saberes e práticas específicas. Por conseguinte, podemos dizer que uma pesquisa emerge de um campo específico, com questões específicas. É desse conjunto que os problemas emergem e dimensionam o tipo de pesquisador. Por exemplo: quero pescar um marlin. Onde posso encontrá-lo? No oceano. Que tipo de peixe é? Arisco, solitário, feroz e altivo. Qual equipamento? Com certeza não posso pescá-lo tendo uma minhoca como isca, nem com um molinete pequeno, anzol frágil, vara de bambu e um barquinho. Esses equipamentos servem para pescar piabas na represa da chácara do meu avô, mas não para a captura de um marlin. É o problema que estabelece e dimensiona os procedimentos, o conhecimento e os materiais e habilidades exigidas à execução de uma pesquisa; em outras palavras, o tipo de pesquisador requerido para atuar num campo específico. Se, sob o critério do discernimento, tenho consciência que não disponho dos procedimentos equipamentos necessários, não moro nas proximidades de um oceano e não tenho habilidades e instrumentos necessárias, o sonho de pescar um marlin é infrutífero e não pode, pelas circunstâncias, ser efetivado. Contudo, não por isso preciso deixar de gostar da pesca; apenas posso não ter, agora, as condições necessárias para pescar um marlin.

Na pesquisa, o procedimento é semelhante. Primeiro, pelo discernimento, e este nunca é da ordem do indivíduo singular, devo avaliar se o meu problema está bem definido num campo de conhecimento específico e se tenho condições de respondê-lo: pode ser que não, que não seja o momento e não disponho, ainda, do conhecimento, instrumental e metodologias específicas. Portanto, o meu objeto de pesquisa, o meu problema, devem estar adequado aos meus conhecimentos teóricos e metodológicos atuais. Recapitulando: antes de sair para pescar devo avaliar as condições efetivas para pescar o peixe visado, sob todos os pontos de vista: conhecimentos, procedimentos, habilidades e instrumentais.

Permitam-me expor um exemplo prático. Gostaria de desenvolver uma pesquisa na área de ética. Pois bem, sob esse conceito geral existem inúmeras variantes. Suponha que desejo desenvolver uma pesquisa sobre John Rawls. Aqui o problema começa a delimitar-se. Mas o que trabalhar no amplo espectro rawlsiano? O tema da liberdade. Muito bem, liberdade. Entretanto, esse tema em Rawls é desenvolvido a partir de um diálogo com a tradição. Talvez eu deva trabalhar a partir da crítica que Rawls imputa à essa mesma tradição. Para saber o que Rawls critica, é necessário que eu também conheça os pontos criticados. Tenho de saber que Rawls parte de uma perspectiva kantiana da liberdade. Mas isso ainda diz pouco, pois devo compreender aquilo que Kant entende por liberdade e com quais autores ele dialoga. Resolvido isso, tenho de compreender as críticas endereçadas a Rawls –e isso é necessário, pois se quero defender uma hipótese devo ser capaz de sustentá–la contra o “fogo inimigo”. Pode ser que, de início, eu seja um rawlsiano e a minha pesquisa me leve à outra margem da discussão. Por conseguinte, cada problema suscitado resulta em especificidades e em conseqüências práticas imediatas sobre o ponto de partida para o desenvolvimento de uma pesquisa. Se não consigo dimensionar um ponto de partida bem fundamentado, o projeto pode, a priori, redundar em fracasso pelo simples fato de não ter dimensionado adequadamente o meu objeto, nem o discernimento teórico-metodológico necessário.

Logo, um projeto de pesquisa bem elaborado deve ser constituído a partir de um problema bem definido, isto é, o tema deve emergir de um campo de conhecimento no qual tenho suficiente domínio metodológico-procedimental. Se, ao emergir um problema e avaliá-lo, percebo que ainda não disponho de instrumentais suficientes, seria prudente repensá-lo, redefini-lo melhor. Portanto, uma pesquisa somente pode ser levada a bom termo quando operacionalizada de um campo específico de um saber específico, com um problema bem delimitado, pois não há pesquisa sem problema, como não há problema que não se manifesta senão a partir de um campo específico, embora, no ato mesmo da pesquisa, o problema inicial assuma feições cada vez mais complexas, pois um campo está interligado a outros e esse fato exige do pesquisador um contínuo aprofundamento em outros campos de saberes. Como numa teia de aranha, uma presa apanhada num ponto a movimenta toda. Por essa razão, o conhecimento humano é historicamente situado e vai sendo estabelecido e compreendido num processo relacional dialético e não há um problema sem uma relação com outros problemas.

III. Por que pesquisa? O saber das coisas e o saber de si

Prescreve Santo Tomás de Aquino no Prologus do De ente et essentia: “Quia vero ex compositis simplicium cognitionem accipere debemus et ex posterioribus in priora devenire, ut, a facilioribus incipientes, convenientior fiat disciplina” [13]. Sob o ponto de vista metodológico, todo conhecimento começa pelo múltiplo indeterminado dos fatos brutos e segue um caminho ascendente até a unidade do conceito que confere sentido à multiplicidade. A este percurso que sobe os gregos denominaram anábasis, que culmina no conceito, no qual estão articulados o universal e o singular. Posteriormente, para averiguar se esses princípios implicados no conceito podem ser corretamente deduzidos e aplicados, deve-se fazer o caminho inverso, a katábasis [14]. Essa característica do conhecimento, que remonta aos primórdios da filosofia, encontra-se magistralmente exposta por Platão no diálogo Teeteto:

Sócrates: os olhos são aquilo com que vemos ou por meio de que vemos, e os ouvidos são aquilo com que ouvimos ou por meio do que ouvimos?

Teeteto: Por meio de que nos apercebemos de cada coisa, mais do que com eles, é o que me parece, Sócrates.

Sócrates: Seria bem terrível, meu rapaz, se as diversas percepções estivessem instaladas em nós, como em cavalos de madeira, se tudo isso não convergisse para uma forma única [idéia], quer se lhe chame alma, quer como haja de se chamar, pela qual, por meio dos sentidos, que são como instrumentos, experimentamos as percepções de tudo o que apercebemos [15].

O caminho do conhecimento parte da multiplicidade indeterminada à unidade do conceito, a partir do qual o múltiplo é ressignificado é a teoria: o caminho ascendente é a busca da unidade de compreensão do múltiplo articulado no conceito.

No processo inverso, o percurso do caminho descendente, do significante ao ressignificado, a visão da multiplicidade explicada [16] a partir do conceito torna-se outra, uma revisão pela teoria, não porque as coisas, a multiplicidade que compõe o mundo sejam outras, mas porque o olhar sobre as mesmas já não é o mesmo como antes do processo ascensional. A posição mesma do olhar –usando uma antiga e venerável metáfora– modifica-se no processo dialético pela busca pelos princípios que explicam a multiplicidade. Por esse motivo, Platão foi categórico ao afirmar que

O método da dialética é o único que procede, por meio da destruição das hipóteses, a caminho do autêntico princípio, a fim de tornar seguros os resultados, e que realmente arrasta aos poucos os olhos da alma da espécie de lodo bárbaro em que esta atolada e eleva-os às alturas [17].

Portanto, quando o meu olhar é arrastado do “lodo bárbaro” no qual está atolado para as alturas, a minha posição em relação ao múltiplo é transformada: na busca pelo conhecimento há, ao mesmo tempo, uma reorientação do meu olhar sobre as coisas. Como resultado desse processo dialético, temos, pois, o conceito que, de acordo com Hegel,

[…] contém os momentos da universalidade, enquanto livre igualdade consigo mesma em sua determinidade; da particularidade, da determinidade em que permanece o universal inalteradamente igual a si mesmo; e da singularidade, enquanto reflexão-sobre-si das determinidades da universalidade e da particularidade; a qual unidade negativa consigo é o determinado em si e para si, e ao mesmo tempo o idêntico consigo ou o universal [18].

Por isso mesmo, a compreensão humana é também dialética e somente pode ser constituída comunitariamente. Marcelo Perine explicita o tema:

Compreender significa, literalmente, tomar com, prender junto. Compreender filosoficamente, desde o tempo de Platão, é um procedimento dialético que consiste, por um lado, em conduzir a pluralidade a uma única idéia, captando numa visão sinótica a diversidade das coisas dispersas, em vista de esclarecer cada uma delas por meio de uma definição, e, por outro lado, em saber dividir segundo as idéias, com base nas suas articulações naturais, evitando, porém, mutilar qualquer dos elementos primitivos [19].

É a partir desse sentido que sustento que o conhecimento é um percurso dialético que é, pari passu, determinação-ulterior (Forbestimmung) e determinação-regressiva (Rückbestimmung), um jogo de inteligibilidade do mundo enquanto dialética do múltiplo e do uno, do finito e do infinito, do indeterminado e do determinado. É a ascensão do múltiplo indeterminado, para o uno (conceito, teoria, determinidade, universalidade) e deste para o múltiplo, num processo contínuo de determinação ulterior e regressiva de inteligibilidade, que o conhecimento humano vai sendo constituído. Em outras palavras: a maneira como nos posicionamos no e em relação ao mundo é transformada no processo perquiritório do conhecimento.

Devemos, no entanto, ressaltar aqui o perigo das leituras oriundas do necessitarismo lógico sobre esse processo, sobretudo quando se tem como horizonte telelológico um critério de verdade do qual é deduzida determinada concepção do conhecimento. É sempre saudável recordar, como o fez Lima Vaz que “não é a verdade que é histórica mas a história que é verdadeira” [20]. Em síntese, toda determinação do conceito deve nos conduzir ao reconhecimento de que produzimos historicamente o conhecimento e que este não possui uma teleologia conferida exteriormente por uma possível verdade que se encontra no au-delà. Enquanto gênero humano, nós produzimos o conhecimento. Portanto, a pergunta pelo sentido do mundo é um problema que concerne ao gênero humano, um problema da condição humana acerca do conhecimento e, por isso, necessariamente histórico e contingente. Recebemos de Merleau-Ponty um esclarecimento sobre esse passo. De acordo com ele, o adulto

[…] descobre na sua vida o que a sua cultura, o ensino, os livros e a tradição lhe ensinaram a ver. O contato de nós mesmos conosco faz-se sempre através de uma cultura, pelo menos através de uma linguagem que recebemos de fora e que nos orienta no conhecimento de nós mesmos [21].

Para exemplificar tomemos alguns exemplos oriundos de algumas mudanças conceituais ocorridas nas ciências, especificamente na Astronomia moderna em relação à antiga. Provavelmente, o céu que vemos hoje é o mesmo visto pelos povos da Antigüidade, embora a maneira moderna de olhar o céu tenha mudado consideravelmente; por conseqüência, a nossa visão do céu é a mesma, embora não a compreensão do mesmo. Acreditamos que o planeta Terra, esférico-ovalado [22] continua tendo a mesma forma, embora inúmeras culturas antigas a considerassem plana; por conseqüência, é e não é a mesma Terra. O ciclo do sol continua o mesmo, embora saibamos, atualmente, que não é o sol que gravita ao redor da terra, mas o contrário: o sentido da percepção mudou. Certamente a gravidade existia nos tempos antigos, mas eram outras as explicações conferidas aos fenômenos físicos; conseqüentemente, os fenômenos, embora continuem sendo vistos por olhos humanos, são e não são vistos da mesma forma.

Da experiência do múltiplo indeterminado à unidade do conceito e deste ao múltiplo, há, no percurso, uma mudança substancial na perspectiva do olhar para coisas sempre olhadas. Essa mudança, operada pelo conhecimento, afeta, indelevelmente, a minha posição no mundo: vejo o que não via antes e esta nova visão não é a mesma visão anterior. Por isso, Sartre afirmou, corretamente, que

[…] o homem não é jamais um indivíduo; seria melhor chamá-lo um universal singular: totalizado e, por isso mesmo, universalizado por sua época, ele a retotaliza reproduzindo-se nela como singularidade. Universal pela universalidade singular da história humana, singular pela singularidade universalizante de seus projetos, ele reclama ser estudado simultaneamente pelas duas pontas [23].

Embora não seja fácil no início, o ato de pesquisar pode, aos poucos, tornar-se um processo prazeroso, na medida em que os limites do meu mundo são ampliados. Observem que, ao longo do texto, destaquei o pronome meu, procurando com isso indicar um fato: minha compreensão acerca do mundo não é um ato estritamente pessoal. Foi Immanuel Kant quem, admirado, fez a seguinte observação: “Todavia, qual seria o campo e a retidão de nosso pensamento se não pensamos por assim dizer em comunidade com outros, conforme uma comunicação recíproca de nossos pensamentos!” [24]. Por isso, a minha compreensão acerca do mundo é um processo dialético que emerge de um background comum que articula nossa posição e compreensão no e do mundo, conforme expresso por Charles Taylor:

A compreensão advinda de um background por nós partilhada, e que está entrelaçada com nossas práticas e maneira de estabelecer relações, não é necessariamente algo que partilhamos como indivíduos. Isto é, ela pode ser parte de uma compreensão desse gênero de uma certa prática ou significado que não são meus porém nossos; e pode de fato ser ‘nossa’ de várias maneiras: como algo intensamente partilhado, que serve de coesão à comunidade; ou algo bem impessoal, em que apenas agimos como ‘todo mundo. Fazer aflorar o pano de fundo nos permite articular os modos pelos quais nossa força de adesão é não-monológica, uma forma em que a sede de certas práticas e compreensões é precisamente não o individuo, mas um dos espaços comuns intermediários [25].

Sob essa ótica, podemos dizer que o processo da pesquisa amplia os horizontes do eu acerca do mundo. Um pesquisador consegue vislumbrar e fazer determinadas ligações de fatos e eventos que antes não conseguia sequer perceber, ou seja, o problema inicial leva a outros, sucessivamente, num processo de paulatinas revisões acerca do ponto de partida. Por esses motivos sustentei a tese que o conhecimento é um percurso dialético que é, pari passu, determinação-ulterior e determinação-regressiva.

Como exemplo, convoco o testemunho de um renomado filósofo e historiador irlandês, Peter Brown, nascido em 1935. Ele escreveu uma obra que se tornou referência para os estudos sobre Santo Agostinho, apresentada como tese de doutorado e publicada em 1967. O autor tinha, à época, 32 anos incompletos quando da publicação de sua tese. Em 1999, exatos 32 anos após a primeira edição, o livro foi reeditado. O autor, ao contrário do que muitos esperavam, não modificou o conteúdo do livro, acrescentando-lhe “apenas” um epílogo dividido em dois capítulos, e um novo prefácio, conservando integralmente o conteúdo da obra inicial.

No prefácio acrescido à nova edição, ele esclarece a opção tomada pela manutenção da obra a partir das perspectivas distintas sobre a pesquisa realizada, ou seja, pela maneira como elaborou seu problema, reavaliado, agora, como um problema específico no seu percurso de aprendizagem. Ouçamos, atentamente, o testemunho de Peter Brown:

Resolvi não tentar incorporar nenhuma mudança ao texto original da biografia. Fazê-lo teria sido complicado e, além disso, pretensioso. A biografia nunca pretendeu ser um estudo abrangente de Agostinho, válido para todas as épocas e, por conseguinte, exigindo ser atualizado, como se fosse um manual científico. Trata-se de um livro escrito, em determinada época, por um rapaz num momento particular de seus estudos. Ao anexar um Epílogo a um texto redigido na década de 1960, pretendi como que esbarrar naquele rapaz –um rapaz com metade da minha idade–, como se topasse com ele inesperadamente, ao virar uma esquina. Creio que ele ficaria emocionado ao me encontrar e ao saber quantas outras coisas foram descobertas. Alguns incidentes da vida de Agostinho, sobre os quais ele nada sabia, estão agora claramente documentados. Os estudos modernos sobre temas que o jovem tinha enorme interesse existem hoje numa abundância com que ele não se atreveria a sonhar. Abriram-se perspectivas inteiramente novas sobre o estudo de Agostinho, as quais complementam ou corrigem o que ele escrevera inicialmente [26].

Eis um encontro inusitado, alguém reencontrando consigo mesmo depois de um percurso de mais de três décadas de labor intelectual! Entre a tese do jovem Brown e o experiente e respeitado pesquisador internacional há um lapso de tempo considerável, permeado por pesquisas, aprofundamentos e revisões teóricas contínuas. Não há dúvida que são pessoas com posições e perspectivas quantitativas e qualitativas distintas. Três décadas de pesquisas ininterruptas impõem uma significativa distância quantitativa e qualitativa numa dada biografia. São milhares de dias debruçando-se sobre as mesmas questões, ampliando seus limites e percepções sobre o problema inicial.

Pelo respeito ao jovem pesquisador Brown, o experiente Brown manteve inalterada a obra, pois modificá-la seria impossível, simplesmente porque o amadurecimento do problema inicial foi submetido ao escrutínio da pesquisa, e os resultados, obviamente, seriam distintos em vários aspectos, tanto na forma quanto no conteúdo.

Portanto, um pesquisador que vai aos poucos aprofundando suas habilidades a partir de um determinado campo do saber, amplia paulatinamente sua perspectiva inicial. Por este motivo, a pesquisa é uma arte que requer uma prática ininterrupta. Bons pesquisadores não são, somente, aqueles que versam sobre muitos temas, mas, antes de tudo, aqueles que se exercitam na arte da pesquisa, mesmo que permaneçam uma vida inteira investigando o mesmo problema.

Em outras palavras, no processo da pesquisa, que envolve o conhecimento do mundo, o pesquisador vai igualmente se reconfigurando, pois o conhecimento é sempre um momento da formação do espírito que nunca aparece acabado. Por este motivo, ao iniciar um processo de pesquisa, emerge em mim a pulsão infinita que me impulsiona continuamente. Essa pulsão age como um negativo, uma força atuante que me impele em direção ao infinito, num processo paulatino de ampliação do círculo da consciência, conforme Hegel expressa na metáfora do círculo dos círculos:

O círculo singular, por ser em si totalidade, rompe também a barreira do seu elemento e funda uma esfera ulterior. Por conseguinte, o todo se apresenta como um círculo de círculos, cada um dos quais é um momento necessário [27].

Portanto, o processo do conhecimento das coisas requer, simultaneamente, um processo do conhecimento de si mesmo pela consciência e do momento histórico no qual estou situado, porquanto o espírito se manifesta como aquele que, pouco a pouco, aprende a se conhecer. E o conhecimento sempre envolve a reflexão pela especulação [28].

IV. Para que pesquisa? Um ato de autonomia

Ao longo desse diálogo nos propusemos a elucidar que o ser humano não tem uma relação direta, imediata, com o mundo que o circunda, mas uma relação mediada pelo conceito. Foi dito também que o meu conhecimento não é da ordem do individual, mas da própria condição humana historicamente situada. Em vista disso, a pergunta pelo sentido do mundo não é tanto um problema do indivíduo singular, senão o nosso problema, o problema do conhecimento. A maneira pela qual um fenômeno é observado supõe uma determinada concepção teórica do mundo. Logo, quem procura um sentido no mundo deve averiguar como e a partir de onde conhece.

O animal não humano, preso à dimensão biológica, ao contrário, vive extaticamente, ou seja, fora de si. Conforme Ortega y Gasset, o animal está “retido fora de si pela urgência dos perigos exteriores. Retornar-se a si mesmo seria distrair-se do que passa fora, e distração semelhante acarretaria a morte do animal” [29]. Em outras palavras, se a vida humana estivesse retida somente pela dimensão biológica, não haveria o processo do conhecimento; é por este motivo que o animal não humano ignora a si mesmo em função da manutenção da própria vida biológica, ou seja, não desenvolveu a capacidade do pensamento, do voltar-se para si mesmo.

Com o ser humano, ao contrário, ocorreu, em algum instante da evolução, um processo extraordinário: “Como a atenção, que primariamente é centrifuga e vai à periferia, executa essa inverossímil torção sobre si mesma, e o ‘eu’, voltando às costas ao contorno, se põe a olhar para dentro de si mesmo?” [30]. Essa capacidade de pensar, de voltar-se para dentro de si, de especular, é potencializada pelo processo da pesquisa. Hegel é explícito quando afirma que

Pensar é o ir-para-dentro-de-si do espírito e, assim, transformar em objeto o que ele é enquanto intui; é o recolher-se em si e, deste modo, separar-se de si. […] Eis o que constitui o trabalho infinito do espírito: retirar-se da sua existência imediata, da vida natural feliz, para a noite e a solidão da autoconsciência e, a partir da sua força e poder, reconstruir pensando a realidade efetiva e a intuição dele separadas. A partir da natureza da coisa, esclarece-se que justamente a vida natural imediata constitui o contrário do que seria a filosofia, um reino da inteligência, uma transparência da natureza para o pensamento. Semelhante discernimento não se constitui assim tão facilmente para o espírito. A filosofia não é um sonambulismo, é antes a consciência mais desperta, e o seu despertar sucessivo é justamente a elevação de si mesmo para lá dos estados da unidade imediata com a natureza uma elevação e um trabalho que, enquanto diferença incessante de si em relação a si, para suscitar de novo a unidade mediante a atividade do pensamento, incidem no decurso de uma época e, claro está, de um longo tempo [31].

Pesquisadores, portanto, são indivíduos que, através de um esforço contínuo, procuram superar seus limites conceituais sobre a compreensão acerca do mundo e da própria existência. São pessoas que conseguem modificar sua atuação e percepção sobre e no mundo, tornando-se cada vez mais conscientes do seu próprio fazer, que procuram responder aos problemas que se lhes manisfestam.

Devemos enfatizar que qualquer problema deve ter uma relação vivencial, um problema que, de fato, seja problema “para-mim”. Em outras palavras, uma pesquisa deve ser motivada por um problema que me convoca, do contrário torna-se mecânico, um arremedo, como expôs, magistralmente, Arthur Schopenhauer:

A verdade meramente aprendida fica colada em nós como um membro artificial, um dente postiço, um nariz de cera, ou no máximo como um enxerto, uma plástica de nariz feita com carne de outros. Mas a verdade conquistada por meio do próprio pensamento é como um membro natural, pois só ela pertence realmente a nós. […] Assim, o produto espiritual de quem pensa por si mesmo é semelhante a um quadro, cheio de vida, com luzes e sombras precisas, uma tonalidade bem definida e uma perfeita harmonia das cores [32].

A partir desse prisma, é plausível defender a tese que a finalidade da pesquisa é a própria liberdade pela educação, a emergência da consciência e da compreensão da condição humana no percurso histórico no qual estamos inseridos, um ato de libertação conquistado, pois, conforme Romano Guardini,

A educação é, de início, educação exógena, quer dizer, o influxo que sobre uma vida todavia por definir, exercem os pais, o entorno, os professores, ainda que a criança se comporta passiva ou receptivamente. Com o tempo aparece sua iniciativa pessoal e se faz cada vez mais vigorosa, até chegar, finalmente, à crise adulta e à maior idade, na qual, basicamente, o jovem toma o timão de sua própria vida. Na medida em que isto sucede, a ação educativa há de ser assumida interiormente, interiorizar-se e unir-se com a própria iniciativa [33].

O processo da educação pela pesquisa tem como finalidade emancipar e tornar o sujeito ativo da sua própria história pela capacidade “de transformar-se a si mesmo por sua capacidade reflexiva e seu poder de libertação” [34]. Uma pesquisa capacita ao agente racional pensar por si mesmo, liberar-se das tutelas, avaliar coerentemente as coisas e ser agente da própria ação. Enfim, autonomia pelo conhecimento é a finalidade de uma pesquisa. É conseguir, finalmente, pescar o peixe que se quer pescar. É conseguir erguer-se mais alto, vislumbrar um horizonte mais amplo, aproximar-se daquele homem descrito nas palavras expressas por Apollinaire:

Certos homens são como colinas
Que se elevam dentre os homens
E vêem ao longe todo porvir
Melhor que o presente fosse
Mais nítido que o passado fosse [35].

 

Notas

[*] “Do momento em que somos diálogo e podemos ouvir uns dos outros,/ tem aprendido o homem”. Hölderlin, Friedrich. Friedensfeier.

[1] Arendt, Hannah, The human condition. 2. ed. Chicago: University of Chicago Press, 1998, pp. 9-10, respectivamente.

[2] Merleau-Ponty, Maurice, Phénomenologie de la perception. Paris: Gallimard, 1945, p. II.

[3] Idem, pp. II-III.

[4] Taylor, Charles, Philosophical arguments. Cambridge: Harvard University Press, 1985, p. vii-viii.

[5] Idem, p. ix.

[6] Lima Vaz, Cláudio Henrique, Raízes da modernidade. São Paulo: Loyola, 2002, p. 158.

[7] Idem, p. 158.

[8] Theissen, Gerd, La religión de los primeros cristianos. Salamanca: Sígueme 2002, p. 16.

[9] Hegel, Georg Wilhem Friedrich, Fenomenologia do espírito. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 2007, p. 41.

[10] Idem, p. 41.

[11] Idem, p. 42.

[12] Quando utilizamos o termo pesquisa, queremos com isso nos referir ao fenômeno, ao conceito formal, não ao conteúdo e determinações ulteriores da mesma nas áreas específicas dos saberes.

 

[13] “Atendendo a que devemos chegar ao conhecimento das coisas simples a partir das coisas compostas e alcançar o que é anterior a partir do que é posterior, de maneira a que a exposição, ao iniciar-se pelo que é mais fácil, se torne mais adequada […]”. Aquino, Santo Tomás, Opúsculos y cuestiones selectas. Vol 1: Filosofia. Madrid: BAC, 2001, p. 41.

[14] Sobre o assunto, cf.: Cirne-Lima, Carlos, Depois de Hegel: uma reconstrução crítica do sistema neoplatônico. Caxias do Sul: Educs, 2006, pp. 11-16.

[15] Platão, Teeteto. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2005, p. 266.

[16]Plica em latim significa dobra. Ex-plicare significa des-dobrar, ou seja, abrir as dobras. Explicação, isto é, explicar uma coisa, significa reproduzir discursivamente, na mente e no discurso, o desdobramento de uma determinada coisa.” Cirne-Lima, Carlos Roberto, Dialética para principiantes. 3. ed. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2002, p.82.

[17] Platão, A República. 7. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1993, p. 349.

[18] Hegel, Georg Wilhem Friedrich, Enciclopédia das ciências filosóficas. São Paulo: Loyola, 1995, p. 153.

[19] Perine, Marcelo, Violência e niilismo: o segredo e a tarefa da filosofia, in: Kriterion, Belo Horizonte, 106, pp.108-126, dez. 2002, p. 110.

[20] Lima Vaz, Cláudio Henrique, Por que ler Hegel hoje? In: BONI, Luis A. de. Finitude e transcendência. Porto Alegre/Petrópolis: Edipucrs/Vozes, 1996, p. 226.

[21] Merleau-Ponty, Maurice, Palestras. Lisboa: Edições 70, p. 51.

[22] Na verdade nosso planeta não é ovalado, mas achatado – tipo, deus fez a bolota e deu um “tapa-telefone”, por pouco não saia um modelo de abóbora halloween!

 

[23] Sartre, Jean-Paul, L’idiot de la familie. Vol. I. Paris: Gallimard, 1972, pp. 7-8.

[24] Kant, Immanuel, Oeuvres Philosophiques, Vol. II. Paris: Gallimard, 1985, p. 542.

[25] Taylor, op. cit., pp. 76-77.

[26] Brown, Peter, Santo Agostinho: uma biografia. Rio de Janeiro: Record, 2005, p. 7.

[27] Hegel, 1995, p. 56.

[28] Especular provém do latim speculum (espelho): trata-se do processo que resulta no reflexo. Quando me olho no espelho há um processo especular, um desdobramento de mim mesmo. Diante do espelho me reconheço.

[29] Ortega y Gasset, José, Que és filosofia? 3. ed. Madrid: Alianza, 1982, p. 140.

[30] Ortega y Gasset, op. cit., p. 141.

[31] Hegel, Georg Wilhem Friedrich, Introdução à história da filosofia. 1991, pp. 52-53.

[32] Schopenhauer, Arthur, A arte de escrever. Porto Alegre: LPM, 2005, p. 44.

[33] Guardini, Romano, Ética. Barcelona: BAC, 2001, p. 102.

[34] Fiori, Ernani M, Textos escolhidos: educação e política. Vol. 2. Porto Alegre: LPM, 1991, p. 73.

[35] Apollinaire, Guillaume, Oeuvres poétiques. Paris: Pléiade, 1965, p. 172.

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